"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
(Eduardo Galeano)

A oficina de outubro – 06/10/09


Dando seqüência à leitura das cartas de Frei Betto, iniciamos o mês de outubro com um novo texto. O texto anterior era uma reflexão sobre o preso comum e este mostra um retrato do regime penitenciário sob um governo militar. A partir da leitura deste podemos analisar quais as semelhanças entre o regime de outrora e o atual. Também podemos fazer um paralelo e discutir a eficácia da medida sócio-educativa de internação, suas vantagens e desvantagens, erros e acertos. Além de todas as outras possibilidades de discussão como as causas sociais do crime, a crueldade do sistema capitalista, etc. Um banquete para alimentar a oficina "de" palavras.


 Penitenciária Regional de Presidente Venceslau, cela 42 do 1º raio, julho, 30/72

(...) fica sem resposta positiva a questão fundamental: o regime penitenciário recupera o preso comum? De modo geral não, mas apenas concede a ele um longo período de férias de suas atividades delituosas. Quando não funciona como um curso de pós-graduação. A única eficácia desse regime penitenciário é a de afastar determinado criminoso do contato com a sociedade e da oportunidade de reincidência – por algum tempo. Ele nem recupera o homem, nem reduz o índice de criminalidade. Por culpa de quem? Por culpa da ordem social da qual o sistema penitenciário é reflexo. Infelizmente os projetos educacionais do Estado esqueceram as penitenciárias e um homem que está aqui há oito anos não terá passado do terceiro ano primário (nem ao menos o diploma do primário é possível obter aqui, quando o mínino desejável seria que esses presos, muitos condenados a mais de vinte anos, pudessem cursar até o terceiro colegial ou algo correspondente, no nível industrial). O mesmo ocorre em relação à qualificação profissional – impossível sair daqui com um certificado de tempo de serviço ou especialização. Em outras palavras, todos saem daqui como entraram – sem nenhum título, embora dispondo de tempo e condições pessoais para adquirir as mais diversas habilitações.
Mesmo que o detento saia disposto a trabalhar e jamais retornar ao crime, ele enfrentará aí fora, por causa de seu passado, toda sorte de dificuldades. Por incrível que pareça, não são todas as penitenciárias que permitem ao preso retornar à liberdade de posse de seus documentos de identificação (neste ponto esta aqui é uma exceção). O sujeito sai e poucos dias depois é preso como vadio por uma ronda policial, pois ninguém ignora como é demorado se obter qualquer papel no Brasil. A coisa chega a tal ponto, que conheci vários presos correcionais condenados ao crime porque não conseguiram emprego por falta de documentos e a polícia não lhes fornecia documentos enquanto não provassem que estavam trabalhando. É muito difícil, com a excessiva oferta e o reduzido valor da mão-de-obra no Brasil, um empregador contratar um ex-presidiário. Quando o faz é porque este possui "pistolão", alguém conhecido que se responsabilize por ele. Na Penitenciária de São Paulo, o SENAI fornece diploma sem constar onde foi feito o curso, tantas são as prevenções contra o ex-presidiário. Muitos patrões, quando descobrem o empregado que passou por uma cadeia, tratam de despedi-lo. Foi o caso de José Gilberto, que estava muito bem como funcionário de um famoso clube paulista, até que houve um roubo lá dentro. Incluído na primeira relação de suspeitos, nada foi provado contra ele, mas mesmo assim foi despedido com a clássica frase: "Vá brigar pelos seus direitos na Justiça do Trabalho". Como evitar a revolta e o retorno ao crime de uma pessoa dessas, sobretudo quando não lhe resta outro meio de sobrevivência?
Um preso pode se recuperar na prisão, mas é muito difícil ele ser reassumido pela sociedade. A começar pela própria família. Quantos não são abandonados pela mulher, incapaz de suportar a castidade involuntária? Dentro do sistema penitenciário atual os critérios de recuperação podem ser facilmente burlados. Trabalhar, ter bom comportamento, demonstrar arrependimento, são atitudes que o preso pode assumir com o objetivo de encurtar sua pena e regressar à rua para cometer novos crimes. Por outro lado, ele pode estar realmente recuperado, envergonhado de seu passado, disposto a adaptar-se à engrenagem social, mas ser tido dentro da penitenciária como elementos perigosos e indisciplinado pelo simples fato de evitar conversas com os guardas ou reclamar das condições carcerárias.
Não são muitas as pessoas, entre juristas, juízes e advogados, que consideram aceitáveis para os nossos tempos os sistemas processual, penal e penitenciário brasileiros. Um homem condenado a vinte anos pode estar recuperado na metade da pena, e degenerado no momento em que a lei determina sua volta à liberdade. A falta de verba obriga toda sorte de improvisações no cárcere e impede que sejam criadas condições mínimas de reeducação dos presos. Os regulamentos são arcaicos e só servem para alimentar ressentimentos e ódios. Não há uma pedagogia carcerária definida em diretrizes básicas. O emperramento burocrático é tal que a filosofia predominante é a do "deixe como está para ver como é que fica".
Qual seria, na minha opinião de presidiário, a solução mínima? É quase inútil por remendo novo em pano velho. São as causas sociais do crime que precisam ser atacadas. De nada adianta construir cadeias. Deve-se edificar uma sociedade capaz de erradicar os focos geradores de criminalidade, como a miséria, o analfabetismo, o trabalho mal remunerado, o desnível entre oferta e procura de mão-de-obra, etc. Entretanto, enquanto perdura a longa agonia de nossa decadente sociedade, uma solução mínima para o regime penitenciário exigiria verbas assombrosas e pessoal altamente especializado – se o objetivo for realmente ajudar esses homens aqui a se reeducarem, segundo o padrão social vigente. Isto significa possibilidade de o detento reeducar-se na liberdade, pela eliminação de todos os fatores coibitivos (rompimento de seus bloqueios afetivos, psíquicos, intelectuais e espirituais) e oferecimento de condições par o cultivo e expansão de suas potencialidades humanas. Portanto, soltar o detento na rua não seria a melhor solução mínima. Provavelmente significaria seu retorno aos focos de criminalidade. (...)

Frei Betto – Cartas da Prisão

RESPOSTAS AO E-MAIL DO EDUCADOR ANÔNIMO


Ana Paula, questionamentos em relação ao texto enviado anonimamente por algum "colega":
- A pessoa que enviou o texto diz "Quando você cita a falta de estrutura". Pelo que eu entendi você envia os textos que os adolescentes escreveram e não escreve por eles, certo? Portanto, o fato de enviar os textos escritos pelos menores não demonstra de maneira alguma a suposta dicotomia entre técnicos e monitores.
- A pessoa que escreveu não sabe o mínimo da língua portuguesa. Criminozo com "Z"? Ok, ninguém é obrigado a saber português, ao menos para fazer a pontuação mínima para concursos já que é para isso que as pessoas estudam mesmo (isso foi uma ironia). Falar mal de quem escreve errado seria errado também.
- Uma pergunta a pessoa que escreveu o texto para você: como os adolescentes deveriam ser tratados? A impressão que eu tenho é que apenas o Código Penal serve para tratar de pessoas que cometeram algo que
legisladores antigos disseram ser o errado. E, se o Código Penal está certo e não o ECA, por que as cadeias de adultos estão lotadas e POR QUE OS ADULTOS COMETEM CRIMES?
- Por que a pessoa que enviou o texto se incomoda com o seu trabalho? Ela sabe exatamente o que você faz? Por que não faz ou sugere o que seria o certo então, em vez de apenas criticar?
Portanto, se você conseguiu enxergar positividade no email do "colega", parabéns. Continue com o seu trabalho que eu admiro tanto.
Letícia Bonfim


"Acorda prá vida, se põe de pé ... a verdade prá nós já amanheceu.
"Não poderia deixar de expressar minhas idéias diante da situação que temos vivenciado: a manifestação de um pensamento ainda pautado no paradigma correcional-repressivo que vigorou durante algumas décadas, mas que felizmente já não encontra ressonância nos dias atuais, pois estamos consolidando  uma sociedade de direitos. Ao ler a mensagem anônima apenas nos defrontamos com um profissional que ainda não se deu conta de que adolescentes, por serem pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, devem ser tratados de uma maneira diferenciada em relação aos adultos. Não é por acaso que os delitos que cometem não são configurados como crimes, mas atos infracionais. Certamente o profissional tem dificuldades de compreender que a medida socioeducativa deve realizar a reeducação dos adolescentes que estão circunstancialmente em conflito com a lei. Circunstancialmente, porque não o estarão para todo o sempre! A questão é: até que ponto muitos dos profissionais que atuam com estes adolescentes o compreendem na sua individualidade, entendem o processo social que leva pessoas em tenra idade a infringir as normas postas para o conjunto da sociedade? Em que medida os profissionais em nosso contexto se identificam com a perspectiva da reeducação?A verdade que já amanheceu é que já não há espaço para pessoas que continuam pensando de maneira repressiva ... enfrentamos o desafio de tornar a humanidade mais humana ... de nos humanizar ... nossas idéias e atitudes ...
Shirley Rizzi - Assistente Social - Assessora da Direção do CIAP

REFLEXÕES DE UM EDUCADOR ANÔNIMO - 01/10/09

Para de sonhar Ana Paula.
Essas histórias que vc manda de vez em quando me fazem rir (monitores maus, técnicos(as) bonzinhos).
Acorda... a grande maioria desses jovens não tiveram oportunidade eu sei, contudo não é motivo para fazerem as atrocidades que fazem, fazem tudo porque têm a consciência de que nada lhes acontece.

Quando vc cita a falta de estrutura familiar sem dúvidas muitos de nós concordamos, em partes, mas eu gostaria que vc comentasse mesmo era sobre a realidade para esses adolescentes(criminozos), a consequência de seus atos, gostaria que os tratassem como deveriam ser tratados.
Para mudar é necessário investimentos na base de tudo isso.
Aqueles que estão presos(internados, cumprindo medida sócio-educativa(detesto esse nome) deveriam ser tratados como bandidos, aí sim eles pensariam bem antes de cometer outro crime, desculpe, ato infracional.
Pensa comigo: vc roubou um pão na padaria da esquina e ao chegar em casa sua mãe lhe falou assim: - filha vc não pode fazer isso, isso é feio, mas tudo bem estamos precisando mesmo... daqui a alguns dias vc repetirá a mesma delinquência ou não?????? te dou um doce se vc ADIVINHAR.
Acorda pra vida se põe de pé a verdade pra nós já amanheceu.( letras de uma música linda do
Grupo Semeando)



O texto acima foi enviado por um de nossos educadores que achou por bem não se identificar. Não acredito ter sido sua intenção, mas acabou sendo bastante colaborativo. Sua visão do delito e do adolescente nos mostra quem são e como pensam muitos de nossos educadores.

Não podemos generalizar e acreditar que todos pensem desta maneira, mas também não podemos deixar de refletir sobre a influência e os efeitos que este tipo de abordagem possa ter dentro de uma unidade de internação.

Vivemos em uma sociedade cada vez mais alienada e contraditória, intelectualmente estéril, carente de padrões éticos, consciência crítica e perspectiva histórica. Se o processo sócio-educativo é essencialmente dialético, pois trata de entender as contradições da sociedade e defender uma posição, como esperar do agente sócio-educativo, fruto desta mesma sociedade, a construção de relações baseadas em valores éticos e solidários? Como iremos educar nossos educadores?

TUDO COMEÇOU... por E.R.L.

Minha vida era normal como todas. Eu tinha meus pais juntos e eles eram felizes até que, um dia minha mãe se separou do meu pai e ela foi embora. Eu fiquei muito triste com aquela cena e eu não podia fazer nada.
Minha mãe foi embora e eu queria ir com ela, mas ela não levou nenhum dos seus filhos. Meu pai quando se separou da minha mãe passou um tempo bebendo que nem um pinguço, mas ele ajeitou uma mulher que era muito chata. Nem eu e nem os meus irmãos gostamos dela. Com o devido tempo, meu pai foi se descuidando de mim e eu arrumei várias brigas na escola sem meus pais saberem. Essas pessoas que eu arrumei briga eram envolvidas no crime.
Todos os dias quando eu estava saindo da escola eles estavam lá fora me esperando para me bater. Foi aí que eu conheci uns caras que também eram envolvidos no crime. Eu comecei a andar com eles e eles tinham várias armas e eu fui começando a andar com arma. Levava para casa sem meu pai saber. Quando meu pai foi perceber, já era tarde e eu já estava cometendo vários crimes. Minha mãe também ficou sabendo o que eu estava fazendo e ela e meu pai chegaram a um acordo. Eles iam me mandar para o Piauí. Eu não queria ir, mas fui.
Chegando lá, eu fiquei agoniado para voltar. Meu tio viu como eu estava agoniado e ele ligou rapidamente para o meu pai pedindo que ele mandasse o dinheiro para eu ir embora. Meu pai mandou o dinheiro.
Quando eu voltei para minha casa, só falei com meus irmãos e meu pai e já fui correndo pegar a arma com os meus colegas. Depois de uma semana que eu tinha voltado do Piauí, eu cometi um crime e logo em seguida eu fui preso. Fui para o CAJE e de lá eu fui para o CESAMI. Fiquei 45 dias e saí de semi liberdade. No mesmo dia que eu cheguei eu já saí fora para minha casa e depois comecei a andar com os meus colegas.
Passou 7 dias e eu fui preso de novo. Eu puxei mais 45 dias no CAJE. Quando eu tava todo alegre e doido pra ir pra rua aprontar mais, fui sentenciado. Fiquei com muita raiva depois que fui sentenciado.
Passei uns 15 dias no CAJE e fui transferido para inaugurar o CIAP. Eu fiquei com mais raiva e comecei a tocar fogo e xingar monitor. Quando eu cheguei no CIAP, duas técnicas me atendia e eu não dava muito certo com elas, mas elas eram gente boa. Elas me davam conselhos, pra ficar quieto pra sair logo desse lugar, mas eu não queria nem saber. Aí que eu atentava mais.
Eu já estava começando a ficar cansado de tanta bagunça e foi aí que eu mudei de técnicos. Veio um homem e uma mulher para me atender. No começo eu não achei certo ser atendido por um homem, mas depois eu fui trocando idéias com ele e vi que ele era gente boa. Ele começou a trabalhar comigo na intenção que eu pudesse mudar de vida e ele fez o que ninguém imaginava. Ele me fez refletir na vida e eu fui começando a conviver calmo, respeitando os monitores e meus colegas. Comecei a mudar meu comportamento. As pessoas daqui de dentro começaram a me olhar com outros olhos, mas quando os técnicos estavam começando a me ajudar a mudar meus pensamentos ruins, eles foram transferidos. Ele para o CIAGO e ela para o CAJE. Novamente vieram mais duas técnicas. Elas estão continuando o trabalho que os meus antigos técnicos estavam fazendo comigo. Elas também me ajudam muito aqui dentro agora.
Eu espero sair daqui e continuar com o pensamento de mudar da Samambaia e ajeitar um emprego, ter uma família, ter filhos e voltar a ter uma vida normal para que possa dar orgulho a minha família porque eu já fiz meus pais sofrerem demais.

Um pouco da minha vida – por A.J. (23/09/09)

Certo dia, quando entrei no banheiro da escola vi dois adolescentes cheirando cocaína. Um deles perguntou se eu queria cheirar e eu falei que não. Eles insistiram tanto que eu acabei cheirando. Foi aí que começou tudo. Com o passar do tempo eu comecei a traficar drogas e por causa dela eu vim parar onde estou hoje, no CIAP.

Por causa dessa droga eu comecei a fazer muita coisa ruim, mas essa internação me fez enxergar o mundo de maneira muito diferente. Enxergar um futuro muito melhor longe das drogas e da violência. Graças à Deus eu já penso em sair daqui só com um objetivo. Construir uma família, terminar meus estudos e falar para a sociedade que eu posso mudar minha vida radicalmente para melhor e ter tudo que eu quero trabalhando muito, sem precisar roubar ou traficar.

Você que está lendo isso agora, eu me arrependo muito de ter cheirado aquela cocaína lá no começo da história, mas a vida ensina por bem ou por mal. Porque estou nessa internação, quando eu peguei meu primeiro saidão, pessoas me julgavam porque estar aqui dentro é estar abaixo deles, mas eu pensei bem e falei que ninguém nasce bandido, ladrão ou traficante. Apenas desconhecem a linha divisória entre o real e o fantástico, criando ilusões, se arriscando no crime.

Quando um menor pega uma arma e vai roubar, é certo que não está estudando ou fazendo alguma coisa de proveito. A sua miséria permite que ele roube para não morrer de fome.

A elite também rouba e nem por isso eles são chamados de bandidos ou ladrões. Pelo contrário, são chamados de "Doutor". Este é meu ponto de vista.

Resultado da leitura da carta de Frei Betto - 15/09/09

A carta de Frei Betto sobre os presos comuns foi um sucesso nas turmas trabalhadas. Os educandos identificaram-se no texto e puderam refletir sobre a condição do presidiário, que não parece ter mudado muito, e também sobre seu futuro e suas possibilidades.
O texto abaixo foi escrito logo após a oficina e é resultado desta reflexão.


Reflexões - por E.R.L.

Em 1992, final de setembro, no hospital, meu choro era motivo de sorriso pra minha mãe. Um sonho lindo, primeiro filho homem. Pra sociedade, um perigo recém nascido, discriminado por ser pobre.

Minha mãe, que trabalhava o mês inteiro por um mísero salário, acreditava nos meus sonhos.

Com apenas 12 anos, que tempo bom, eu fazia vários planos de ter uma família unida, filhos, um trabalho, fazer um curso. Mas com a devida falta de oportunidade, eu não realizei meus sonhos. Acabei cometendo crimes e fui preso. Hoje pago por um erro que cometi e acredito na possibilidade de que quando sair daqui posso voltar a lutar pelos sonhos que tenho desde os 12 anos e que ficaram parados durante todo o tempo em que pago pelos erros que cometi e que jamais saíram dos meus pensamentos.

 

Retorno das atividades - 24/08/09

As atividades desta oficina (e deste blog) foram interrompidas temporariamente porque estive afastada por motivos de saúde durante este período. Fiquei muito feliz em retornar ao CIAP hoje e ser questionada por todos os adolescentes que encontrei sobre o retorno da oficina. Ótimo sinal!
Durante minha licença, enquanto pesquisava novos textos para discutir com os educandos, comecei a ler o livro "Cartas da Prisão", escrito por Frei Betto no período em que esteve preso durante a ditadura militar no Brasil. Ele ficou preso por quatro anos e escreveu também o famoso "Batismo de sangue", livro que retrata o período da ditadura e sua prisão e que há pouco tempo foi adaptado para o cinema sob a direção de Helvécio Ratton. Lindíssimo filme!
Voltando ao "Cartas da Prisão"... achei-o sensacional! Nele encontrei textos que falam sobre educação, política, reeducação de presos, capitalismo, etc. Os textos são curtos, escritos com muita informalidade e simplicidade facilitando a compreenssão.
Amanhã reinicio já com novo texto que traz as impressões do autor sobre quem são so presos comuns. Deixo-o aqui para degustação...


13/08/72

(...) A cada dia caminho um pouco mais dentro do universo do preso comum, que me era inteiramente desconhecido. Estar aqui é estar em nível abaixo daquele em que o povo se situa. Essa subclasse de tal modo é marginalizada da sociedade que lhe faltam mesmo os critérios mínimos de avaliação moral padronizada pela ideologia dominante. Jamais teve a consciência impregnada de valores éticos habituais. Desconhece por completo a linha divisória entre o real e o fantástico.

A maioria desses companheiros de infortúnio é acusada de homicídio e roubo. No dialogo há um momento em que decidem contar o seu crime: é um sinal de confiança. Confesso que ouço coisas que ainda ferem minha sensibilidade, que eu julgava curtida pelos anos de prisão. Ontem em me contou que foi assaltar um casal de velhos e nada encontrando de valor ficou de tal modo revoltado que obrigou o casal a se despir e violentou tanto a mulher como o homem. Descritos em detalhes e com realismo fatos como estes impressionam, mas sobretudo nos questionam: os homens chegaram a tal nível de alienação que não apenas confundem o real com o fantástico como também tornaram o fantástico realidade. Isto melhor se configura na espiral de violência qua assola nosso século.

Nesses presos se refletem, de forma aguda,as contradições sociais. São rebotalhos de nossa sociedade, o que de pior ela soube produzir e a camada a que pertencem só encontra similar no extremo oposto da estrutura social: a elite. Elite e o subproletariado caracterizam-se pela ociosidade e marginalidade de seus membros, violência de seus métodos de sobrevivência, esterilidade intelectual, carência de padrões, de consciência critica e de perspectiva histórica. Na expressão de Ortega, têm vida apenas como processo biológico e não como processo biográfico. O que as diferencia é o fato de a primeira situar-se no cume da pirâmide social como detentora do poder e a segunda situar-se na base, abaixo da superfície, como a camada mais oprimida, desprovida inclusive de qualquer resquício de consciência de classe.

Entre seus membros predomina o mais exacerbado individualismo, são incapazes de se unir mesmo em função de seus interesses fundamentais e nada tem a perder. Nenhum desses marginais detém qualquer atributo que caracteriza as pessoas socialmente integradas: posses, títulos, formação intelectual e profissional. Nem o sistema penitenciário lhes concede isso,mesmo que passem aqui vinte anos. São todos semi-analfabetos, oriundos de meio social pobre e em geral ingressaram no crime quando menores. (Dizem que para se diplomar no crime o malandro tem que fazer o primário no reformatório, o ginasial na cadeia publica e o nível superior na penitenciária...)

Não possuem nenhuma maldade inata, embora a pedagogia penal não se tenha libertado totalmente da influência lombrosiana. O que houve foi falta de oportunidade de integração no sistema, restando-lhes a via ilusória e arriscada do crime.

As contradições sociais atingem o paroxismo nesses homens porque, se de um lado o sistema quer fazer crer que todos nascem com iguais direitos, por outro eles sabem que de fato suas oportunidades foram mínimas, para não dizer nulas. A possibilidade de uma vida honesta, dentro dos padrões atuais, reduzida. O mercado de trabalho esta inflacionado e à mão de obra não especializada não resta outra alternativa senão o salário de fome, o rosário de dívidas, a instabilidade profissional.

Seja qual for a razão que um pivete atribui ao fato de portar uma arma e assaltar, é certo que ele não está matriculado numa escola ou empregado numa firma. À sua miséria e desamparo acresce-se a ociosidade, que lhe permite absorver a fantasia, extrato da cultura de massa, em condições de torna-la realidade. A moral social não permite que um homem tire a vida de outro, que uma mulher fique nua em publico, que a juventude se refugie no tóxico. Contudo defensores dessa mesma moral permitem e subvencionam a fantasia social divulgada por filmes, programas de televisão, fotos e publicações, onde o ser humano é apresentado como agressor e agredido, despido e ridicularizado, erotizado e drogado.

Tais estímulos penetram tão profundamente no inconsciente coletivo, que o homem passa a não poder viver em uma maneira de satisfazê-los. A elite tem suas orgias, suas aventuras e seus crimes camuflados pela própria ideologia que ela impõe. O subproletário age com menos requinte e inteligência e por uma necessidade de sobrevivência física. De um modo ou de outro somos todos responsáveis e cúmplices por coexistir numa sociedade que produz tais homens.

Não vou me estender, quero apenas registrar impressões, que poderão ser aprofundadas pelos psicólogos da comunidade (aqui eles teriam um vastíssimo campo de pesquisa). (Mas não estou sugerindo que cometam um crime ou ponham em risco a segurança nacional!...)

Frei Betto – Cartas da Prisão

O que eu achei da Conferência da Juventude – 15/07/09 por RJA

Primeiramente eu gostaria de agradecer às pessoas que acreditam no nosso progresso e às pessoas que fizeram essa Conferência ser possível. E também às pessoas que participaram deste encontro com a mente aberta para darem suas opiniões e escutar o ponto de vista de seus semelhantes. Obrigado também ao secretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública por escutar, falar e se mostrar presente em nossas comunidades, escutando a população. O Itapoã agradece.

Nós temos que trabalhar juntos pra no futuro nossos filhos não precisarem roubar ou se matarem por besteiras, que não se sintam sozinhos nem passem fome. Nós, a população não podemos ser ignorantes e não tentar entender a razão dos outros sejam eles que forem ou façam o que fizerem.

Finalizo com grande satisfação e agradecimento à Ana Paula, Sandra, Julyana, Rosimiro, Fernanda, Daliane e todos os outros servidores participantes. E que esse mundo imperfeito se torne melhor através das pessoas imperfeitas, respeitando suas diferenças e acreditando que um mundo melhor começa aqui e agora. Dentro de nós mesmos.

Um obrigado especial à Ana Paula por ser responsável pela nova pessoa que tem dentro de nós mesmos ter espaço para se expor.

Até a próxima e que Deus, que sempre vai ser lembrado, proteja todos nós e que nos faça compreender e seguir o maior exemplo de todos: Jesus de Nazaré.

Obrigado de novo,

RJA.

Reflexões - 05/07/09

Durante este período que passei sem atualizar nosso blog refleti muito acerca das dificuldades do processo de educação. Há muito tempo eu comecei a pensar em educação no sentido de questionar a que recebi e que na verdade o povo brasileiro vem recebendo ao longo dos séculos. Enquanto me preparava para o nascimento de minha primeira filha comecei a pensar que tipo de educação gostaria de dar a ela e pensar o quanto a individualidade do ser pode influenciar o todo.
Depois de entrar no CIAP mergulhei fundo na pedagogia e na educação. Foi um processo rápido e sincrônico, pois as coisas foram acontecendo de maneira sintonizada. Primeiro a vontade de desenvolver uma atividade de qualidade para os educandos, a criação da oficina, o curso do Prodequi, o contato com a pedagogia de Antônio Carlos, o grupo Superação...
Fui percebendo com o desenrolar do projeto que a educação no contexto das medidas sócio educativas envolve não só os adolescentes, mas também a comunidade sócio educativa inteira. O entendimento deste processo educativo consegue atingir diferentes níveis de repercussão. Desde os mais negativos aos posistivos.
Apesar de mergulhar cada vez mais na triste realidade do mundo em que vivemos sou idealista e com todas as adversidades consigo ainda ser otimista. Talvez, se não houvesse preservado a ingenuidade e a boa fé hoje me seria impossível sonhar e continuar caminhando. Como já disse Galeano, é a utopia que nos faz continuar. Mas o caminho não é fácil e a caminhada pode ser bem longa e cansativa. São muitos os obstáculos que poderiam me fazer desistir de tudo, mas a vontade de servir ao outro, que no fim é como servir a mim mesma me motiva cada vez mais.
As duas últimas semanas foram bem difíceis para a oficina. Alguns boicotes, desmotivação dos adolescentes, evasões da oficina, fofocas, intrigas... enfim, foram muitos os motivos para uma pausa reflexiva. E como o que não me destrói me fortalece, os últimos dias da semana operaram um movimento diferente. Enquanto preparava um relatório que justificava as ausências e a desmotivação, não só dos jovens como minha também, vi crescer o número de pedidos de participação na oficina.
Como uma fênix, a Oficina da Palavra ressurge fortalecida, mais dinâmica, com nova metodologia e muitos novos adolescentes. São hoje 37 jovens e mais umas quatro ou cinco promessas de inclusão.
Muitas surpresas entre os adolescentes mais novos. Muita vontade de aprender e discutir a realidade.
Depois de várias descobertas infelizes a respeito do entendimento que as pessoas tem sobre o meu trabalho, saí mais forte e convicta da importância dele.
E para aqueles que desconhecem e preferem atirar pedras, sinto muito pela estreiteza de pensamento. Permanecer ignorante é mais fácil. Um porto seguro para a maioria. Conhecer, pensar, descobrir, subverter e revolucionar são privilégios de poucos. Sendo assim prefiro a solidão.
Viva a contra cultura!!!!!

CIAP na Conferência Diálogos de Juventude - 05/07/09

O mês de junho encerrou com um evento importante para alguns adolescentes do CIAP. Depois de dois meses de debates sobre a Segurança Pública discutindo o eixo temático "Prevenção social do crime e da violência e construção da cultura de paz", quatro educandos tiveram a oportunidade de encontrar com a juventude do DF para participar de sua primeira experiência cidadã. Fomos a única entidade governamental a participar desta Conferência Livre graças ao grande esforço de nossa gerente Sandra Morato na organização conjunta do evento e do apoio de nosso diretor Lauro de Marco. Colaboraram muito também nas discussões preparatórias o pedagogo Rosimiro e a assistente social Julyana, grandes companheiros de trabalho e convicções.
Nossos jovens puderam participar dos grupos que elaboraram conjuntamente seis princípios e oito diretrizes que foram votadas e serão encaminhadas como propostas para a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública. Um deles subiu à mesa para dar seu depoimento e sugestões sobre a segurança pública no DF e o que precisa ser mudado para alcançarmos a Segurança Cidadã. Nos emocionou muito e vai deixar saudades.
Em breve publicaremos o relato dos adolescentes sobre o significado desta participação em suas vidas. Aguardem...

Oba, turma nova!

Finalmente conseguimos iniciar uma nova turma que já estava aguardando há algum tempo.
Mais três adolescentes para a oficina. E o quarto começará na semana que vem.
Assistimos ao filme "A história das coisas" e fizemos um debate rápido de 10 minutos. Eles gostaram muito. Um deles comentou que todos deveriam assistir a esse filme.
Solicitei aos educandos que continuassem o debate no módulo e que escrevessem um texto sobre o que entenderam do filme. O filme é uma ótima introdução para começarmos a conceituar e entender o capitalismo.
Estou ansiosa pelo próximo encontro.

A HISTÓRIA DAS COISAS

Batizado da Oficina - 04/06/09

Esta semana decidi renomear a oficina. Não andava muito satisfeita com o nome de Oficina de Leitura pois acho que este espaço vai um pouco além da leitura.
Encomendei uma placa aos meninos da Oficina de Artes e o nosso nome ficará assim:
"Oficina da Palavra De Pernas Pro Ar".Nada mais justo e óbvio.
Palavras do mestre:
"A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la."

Sobre a segurança pública - 02/06/09

A semana começou mais agitada. Parece que os adolescentes despertaram da pasmaceira que os havia atingido. Fizemos um encontro no sábado com alguns adolescentes para debatermos a segurança pública e o resultado foi muito positivo. Ouvir as experiências dos adolescentes com a segurança pública e a justiça nos desperta para realidades que poderíamos até imaginar, mas que talvez não julgássemos possíveis ou aceitáveis.
Assistimos a um vídeo sobre experiências exitosas da polícia em alguns estados, o que deu subsídios para debatermos o assunto por duas horas que passaram como trinta minutos. O vídeo foi recomendado pelos colegas da rede da juventude, criada para debatermos assuntos pertinentes à Conferência. Ainda temos muito a explorar dentro desta temática e a mudança de data da Conferência acabou nos ajudando muito. Teremos mais tempo e possibilidade de envolver mais jovens neste debate.
A Conferência Livre - Segurança Pública Cidadã - Diálogos de Juventude acontecerá no dia 27 de junho.
Estamos registrando todo o debate em vídeo para tentarmos montar um curta documentário sobre a discussão.
Participações super especiais: Rosimiro (Tatu), Juliana, Davidson e Yussif.

Pensamentos de M.P. (21/05/09)

O Brasil vive uma história de poucas conquistas. Não vejo ninguém falar que o Brasil seja um país que lucra com alguma coisa. Só ouço falar de dívidas e mais dívidas e a mais falada é a dívida externa. Eu não sei bem o que seja, mas sei que o Brasil pode sair dessa porque o povo brasileiro não é burro, só é mal informado sobre nossa história e acaba fazendo escolhas erradas e caindo na lábia dos políticos. Um exemplo das conseqüências de nossas escolhas são os políticos que querem diminuir a idade da maioridade penal. A conseqüência será que adolescentes de 16 anos, mentes fracas, cairão e presídios e ao invés de saírem regenerados como nós, internos do CIAP, eles sairão transformados em monstros. Penso que se todos nós pensarmos juntos o Brasil fluirá.

Sonho Impossível (Chico Buarque)

Sonhar mais um sonho impossível / Lutar quando é fácil ceder / Vencer o inimigo invencível /
Negar quando a regra é vender / Sofrer a tortura implacável /
Romper a incabível prisão /
Voar num limite improvável / Tocar o inacessível chão / É minha lei / É minha questão /Virar esse mundo / Crivar esse chão / Não importa saber / Se é terrível demais / Quantas guerras terei de vencer / Por um pouco de paz / E amanhã /
Se esse chão eu beijei /
For meu leito e perdão / Vou saber que valeu /
Delirar e morrer de paixão /
E assim, seja lá como for, / Vai ter fim / A infinita aflição /
E o mundo vai ver uma flor /
Brotar do impossível chão.

Preparando para o debate - 19/05

Iniciamos (Rosimiro, Juliana e eu) a preparação dos educandos para a Conferência da Juventude. Começamos hoje com os adolescentes do M1. Gravamos um programa da TV Câmara chamado "Câmara Ligada" com a participação de MVBill e a deputada Marina Maggessi, ex-policial civil do Rio de Janeiro, discutindo com os jovens questões como crime, violência, direitos humanos, etc. O programa é dividido em quatro blocos então aproveitamos esta dinâmica e fizemos a discussão depois de assistirmos cada bloco. Conseguimos assistir a dois blocos e fazer as duas rodadas de discussão. Achamos o resultado muito positivo e documentamos em vídeo toda a discussão.
O desafio será trabalhar com os outros grupos pois este é excepcional.

Pequeno esclarecimento

No mesmo domingo em que recebi as belas palavras de Galeano, recebi também um comentário, aqui no blog, muito bonito e lisonjeiro. Uma manifestação de carinho e reconhecimento. No entanto, a mensagem foi postada anonimamente o que me deixou muito curiosa a respeito do autor/a. 
Gostaria apenas de reforçar uma informação que consta do projeto da oficina desde o início e que posteriormente já foi divulgada por mim através de um comunicado escrito e também através de convites individuais e pessoais. A oficina sempre esteve de portas abertas para receber não só os adolescentes, mas também todos os socioeducadores que se interessarem. Acredito na integração e na igualdade. Meu interesse é difundir as informações contidas no livro "De pernas pro ar" e ampliar o debate sócio-político.
Faço aqui o convite novamente.

SEJAM TODOS BEM VINDOS À OFICINA. AS PORTAS ESTÃO ABERTAS A TODOS!

Palavras do mestre

Desde o início da oficina de leitura sentia um desejo enorme de fazer contato com o escritor Eduardo Galeano e contar-lhe minha experiência com seu livro, os objetivos da oficina, o porquê da escolha do livro, os desafios, obstáculos e principalmente a resposta dos educandos à experiência. Também queria dizer do impacto que teve e tem  sua obra em minha vida e de minha tentativa de multiplicação desta experiência particular. Pedi ao ilustre professor Emir Sader que intermediasse este contato entre nós e sua resposta foi positiva. Depois de ter três e-mails devolvidos entre quarta e sábado, finalmente consegui enviar a mensagem, já na terceira edição do texto original. Para minha surpresa e extrema alegria, abri meu e-mail no domingo e encontrei uma pequena mensagem que guardarei como uma jóia. Espero que não seja a última e sim a primeira.

ana paula, querida:
obrigadissimo.
ajudam a viver, e a escrever, tuas palavras, e tudo o que tuas palavras tão belamente contam. 
abraço de muitos braços para voce e todos esses jovens companheiros.
eduardo galeano

A semana que passou...

A semana pós dia das Mães foi complicada. Muitas evasões, esvaziamento da oficina e desânimo generalizado dos adolescentes. Os que receberam o benefício de saída pelo dia das mães voltaram bem desanimados questionando a real eficácia da medida, o longo período afastados da vida social e outros motivos. Em meio às evasões, perdemos nosso melhor escritor, D.H. Acabei me abatendo com as perdas também. Mas também pude constatar um fato positivo. Um dos exemplares do livro "De pernas pro ar" que estava emprestado para três meninos da oficina, que habitavam o mesmo quarto, desapareceu. Parece que um deles levou o livro e isso me deixou contente e surpresa.

Iniciamos a semana assistindo a dois filmes. O curta metragem "Ilha das Flores" de Jorge Furtado e "A história das coisas". O primeiro é um retrato irônico da sociedade de consumo e o outro aponta a impossibilidade de seguir esse modelo irresponsável de produção e consumo e revela as etapas deste processo que permanecem longe do nosso olhar. E isso não se dá por obra do acaso. Já dizia aquele provérbio popular: "o que os olhos não vêem, o coração não sente". Nos grupos mais antigos, os filmes encerram o capítulo "Curso Básico de Injustiça" e para os grupos que iniciam agora, o filme "A história das coisas" será a introdução para a leitura do livro. O próximo desafio será a preparação para o debate sobre segurança pública. Esperamos capacitar os educandos para participarem ativamente da Conferência Livre da Juventude que acontecerá no dia 06 de junho no DF.

Homenagem às mães por R.

Amor de mãe

Amor de mãe é difícil de definir. Talvez porque seja infinito.
Tuas tristezas escondidas pelo teu sorriso e lágrimas confundidas me fariam amadurecer e entender mais tarde que mais seguro que leite de mãe, só mesmo amor de mãe para nos compreender.
Eu era pequeno demais para entender, mas confesso a você que chorava muito sem saber o porquê.
Minha estrela guia, o pilar da família. Me traz esperança para toda a minha vida.
Mãe é a mão que ampara, benção divina e amor que resgata.
Te amo para todo sempre mãe.

Mãe e Mulher


Mulher da minha vida, Adriana, minha amiga. Mais que minha companheira, a guerreira que sempre esteve comigo. Sempre juntamente com minha mãe, chorando minhas mágoas e sorrindo minhas alegrias.
Quero estar contigo, não digo só em espírito, mas em corpo presente. A grande alegria de renascer no teu ventre é compartilhar contigo a minha vida até o fim e ver em meus filhos o teu brilho, para todo sempre.
Seria difícil definir seus defeitos se em tuas qualidades busco inspiração para toda minha vida.
Adriana, te amo eternamente.

Redução da maioridade penal por E.R.

Particularmente somos contra. Não sei o que leva a população a pensar que desse modo diminuirá o índice de criminalidade, pois a grande maioria não pratica a infração pensando em impunidade, mas pratica por necessidade ou, em outras vezes, por falta de maturidade devido a sua idade. O jovem até os seus 18 anos se encontra em conflito intenso consigo mesmo, pois está se descobrindo neste momento.
Dizem que o jovem é o futuro do país, mas como será o futuro se esses jovens forem jogados em presídios? Se essa lei for aprovada, a descoberta da vida dos jovens envolvidos em atos infracionais será a pior de todas. Muitos monstros surgirão.
Toda vez que acontece um crime violento praticado por adolescentes e acaba parando na mídia, vem essa mesma questão de novo.
População brasileira será que esta é a melhor alternativa?
Ou será melhor investir na sócio-educação?


Texto escrito para o Jornal do Mundo ao Avesso

Reflexão sobre a oficina

A oficina de leitura criada pela Ana Paula está nos ajudando a conhecer o mundo como ele é. Estamos discutindo vários temas como capitalismo, violência, segurança pública, etc.
Participar desta oficina me ajudou a não acreditar em tudo que vemos e escutamos na TV porque a realidade é o mundo que está atrás das câmeras e isso não é mostrado.
Fazendo esta oficina estou aprendendo a fazer minha parte pro mundo melhor, como meus direitos e deveres e o que posso fazer pra ajudar na paz do mundo. Aprendo também que às vezes a televisão nos engana sobre as injustiças que rolam no mundo afora. Também aprendemos como a vida já era injusta há vários anos atrás e que quase nada mudou nos países "pobres".



A oficina de leitura, criada para jovens reflete sobre o mundo atual abrindo ainda mais a mente dos jovens em relação à política, cidadania, etc.
A oficina também nos proporciona estar em convívio melhor com as pessoas ao redor nos mostrando a realidade do mundo, reeducando os internos a estarem aptos, ao saírem da instituição, com um convívio social melhor.
Na oficina os internos têm liberdade de expressão, tanto a críticas, sugestões e opiniões.



Textos escritos para o Jornal do Mundo ao Avesso.

A solução não é a punição. Por D.H.

Quando se trata de redução da maioridade penal são diversas as opiniões, entre elas muitos desejam sua aprovação. No meu entendimento, o caso se agrava ainda mais. Não será esta a solução da criminalidade.
A criminalidade na juventude está relacionada ao descaso social que atinge a maioria, que são os pobres, a influência negativa de muitos que dispõem do poder e usam em beneficio próprio, e que agem no sistema da condenação, atropelando princípios verdadeiros da paz para manter a injusta e preconceituosa "ordem democrática".
Inúmeras vezes o infrator é a vítima maior desta triste realidade. Um passado turbulento, com a mente dominada pela ganância e um futuro traiçoeiro, cheio de armadilhas. Tendo essa visão do problema, seria impossível resolvê-lo com modernos campos de concentração do século XXI, resumindo, presídios.
A violência não pode ser tratada apenas com a punição, mas com a reeducação daqueles que a praticam.


Texto escrito para o Jornal do Mundo ao Avesso

Alegria, alegria!!!

E o mês de abril terminou com uma notícia maravilhosa...
Um de nossos rapazes recebeu sua liberação no dia 30 de abril. Só alegria! Era participante da oficina de leitura e se destacava pela inteligência e astúcia.
P., estamos todos torcendo por você. Desejamos muito sucesso no concurso e que sua inteligência e força de vontade possam abrir portas de oportunidades para você. Que seus objetivos sejam alcançados e seus sonhos realizados.
Espero que você possa trilhar um caminho mais iluminado e seguro agora.
Muita luz e muita paz para você.
Já sinto saudades.
Abraços amigos,
Nós da Oficina.

Relato da semana passada

A semana que passou foi pouco produtiva na oficina. Com a participação dos educandos no concurso do Metrô, a oficina ficou um pouco comprometida, mas por uma nobre causa. Estou torcendo por todos e ajudando no que posso. Também estão todos envolvidos com os preparativos para o Dia das Mães. Os rapazes estão preparando um texto em homenagem a elas e ensaiando uma música com o acompanhamento do Marquinhos (Núcleo de Esportes), Gilberto (Oficina de informática) e Lisianny (ATRS) para apresentar no dia da comemoração.


Por outro lado, recebi novos pedidos de educandos querendo participar do projeto e já começo a atendê-los a partir da próxima semana, tão logo a escola organize sua grade horária que sofreu alterações.

Estive trabalhando com um grupo de adolescentes os textos que eles publicarão no Jornal Mural que, a pedidos da direção, será afixado não só na área das oficinas profissionalizantes, como também dentro de cada Núcleo de Convivência. O Jornal finalmente sairá nesta semana.
Outra novidade é a participação dos educandos na Conferência Livre da Juventude que acontecerá no dia 30 de maio aqui no DF e que discutirá propostas a serem encaminhadas à 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública. Além dos debates, estudamos a possibilidade de participação através do concurso de vídeo e música. Acredito que este mês teremos um ciclo muito produtivo de debates sobre a prevenção da criminalidade e a cultura da paz.

Boa semana a todos!

“Nossa realidade” por M.P.


Eu entendi que a televisão mostra muita ilusão, muitas coisas que a gente pensa que vai transformar nossas vidas em um paraíso, mas na verdade tamos comprando ilusão e com isso fazendo dívidas que não podemos pagar.
Eu que pensei que o Brasil era o melhor país. Não tem terremoto, não tem guerra. Mas me enganei. Nós temos uma guerra por nossos direitos de cidadãos que poucos conseguem ganhar.
A lei é injusta, não para todos mas para muitos. Quantas vezes ouvimos falar que um filho de autoridade, governador, senador ou presidente foi para cadeia e ficou preso? Não ficam porque estão por cima, no poder e não na classe baixa.
Estamos sendo privados de nossos direitos. Mas fazer o quê? Nas escolas não nos ensinam a lidar com essas diferenças sociais e assim nós continuamos por baixo.

Este texto sofreu correções para permitir seu entendimento.

Reunião do Jornal do Mundo ao Avesso


Reunimo-nos para definir quais assuntos entrariam na primeira edição do nosso jornal mural. Os adolescentes fizeram uma lista extensa de assuntos a serem explorados e coletivamente definimos quais seriam as colunas do jornal. A primeira edição ficará assim:

  • Coluna: "Relações interpessoais na unidade".
    Tema: A convivência positiva com as pessoas que acreditam no potencial dos educandos.
  • Coluna: "Notícias do mundo ao avesso"
    Tema: Redução da maioridade penal.
  • Coluna: "Novidades do CIAP"
    Tema: A participação de 13 adolescentes no concurso do metrô.
  • Coluna: "Reflexões"
    Tema: D.H. conta sua história para discutir a eficácia da medida de internação.
  • Coluna: "Reflexões"
    Tema: Reflexões sobre a oficina de leitura.
  • Coluna: "Espaço dos servidores"
    Tema: Ainda em aberto aguardando a colaboração dos servidores da unidade.

Semana de 13 a 17/04

No decorrer da semana que passou as turmas cresceram um pouco. Abri espaço para alguns educandos "curiosos" que vieram conhecer a oficina de perto. A partir da próxima semana iniciarei uma nova turma com quatro educandos.

Com as turmas novas trabalhei os conteúdos trabalhados com as turmas mais antigas. Com os outros, iniciei o capítulo: Curso básico de injustiça. Este capítulo propicia a discussão dos seguintes temas:

  • O consumismo
  • O individualismo
  • O poder manipulativo da TV e da Publicidade
  • A homogeneização cultural X desigualdade social

A discussão dos temas acima propicia a discussão também dos valores a serem construídos para atingirmos um modelo mais justo de sociedade.
É interessante perceber que em alguns grupos, os adolescentes já começaram a se interessar mais pelos noticiários em busca das informações que reforçam os valores e as crenças da sociedade de consumo. Já conseguem perceber o tom manipulativo dos jornais televisivos ao anunciarem algumas notícias. Considero este fato altamente positivo e indicativo do sucesso da oficina. Eles começam a sentirem-se especiais por dominarem um novo conhecimento, por começarem a entender o mundo ao avesso e suas implicações na vida de cada um.

"O caminho a seguir" por D.H.

Devemos observar que a melhor maneira de um possível re-socialização seria o conjunto da informação, educação e oportunidades. Há muitos com um grande potencial, com diversos talentos que podem estar ocultos, esperando uma chance para vir à tona. A maioria procura obter a realização dos objetivos, mas com métodos errados e se transformam em vilões. A estatística do crime fala que ele evolui cada vez mais. Na verdade não é o crime que aumenta, são as oportunidades que diminuem com a falta de ensino para muitos. A informação é pouca para o contexto da sociedade que vivemos. Podemos vencer essas dificuldades, ultrapassar esses obstáculos, esquecer o passado e lutar por um futuro promissor.

Ponto de vista de E. e D.H.

Realmente o mundo em que vivemos está completamente ao avesso! Cheio de desigualdade racial e social, atingindo completamente a maior parte da população. Onde quem faz as leis fazem em próprio benefício. Patrocina os contrabandos, tráfico de armas e de drogas ilícitas, gerando cada vez mais nossa destruição (violência, desrespeito e pobreza). Assim crescem cada vez mais à custa da desgraça de seu próximo.

Assistimos diariamente nos jornais ao aumento da corrupção e da pobreza. Esses índices não representam nada, nem a metade da metade do que realmente acontece no país e no mundo. Mesmo assim a mídia, sem que percebamos, instiga o consumismo, comprometendo, claro, os mais pobres porque o salário miserável que ganham acaba voltando para as mãos dos próprios capitalistas.

Realmente, todo o sistema é nada mais nada menos do que "lobos em peles de carneiros". São que nem parasitas que sugam seu hospedeiro até a morte proliferando seu ciclo.

O mundo em que vivemos hoje é de precariedade. A maior parte da população pobre, principalmente s crianças que são nosso futuro.

As crianças desde cedo são "envenenadas" pela televisão e na maioria das vezes acabam perdendo sua infância. As crianças ricas perdem sua liberdade, acabam criando medo da sociedade onde convivem que é de violência, assaltos, drogas. Já as crianças pobres começam a trabalhar muito cedo e na maioria das vezes são exploradas com serviços pesados e até sem ganhar dinheiro. Os meninos pobres acabam sendo destinados ao crime para que não passem fome e as meninas se prostituem, vendem seu corpo por muito pouco.

O mundo que queremos, ou melhor, o mundo que sonhamos, desejamos todos os dias é o da igualdade e oportunidade para todos, aonde não houvese pobreza para ninguém, onde as crianças não fossem exploradas ao invés de estudarem.

O mundo que queremos é onde seríamos tratados com gente. Gente eu sei que somos, mas gente decente. Queríamos viver contentes e felizes, queria que no mundo não houvesse classe alta, média ou baixa. Que todos fôssemos iguais, assim talvez diminuiria a violência e a prostituição.

O mundo que queremos por R.

O mundo que queremos é aquele com igualdade social e racial, amor,amizade com direitos humanos para diferentes classe sociais. A humanidade sem terrorismo, sem guerras, sem medo. O mundo onde pessoas são solidárias umas com as outras.Onde a fome não mata ou faça os jovens se envolverem com o crime.

Onde crianças não parem de estudar para ajudarem seus pais no trabalho. O mundo sem discriminação de qualquer tipo,onde pessoas possam ver as notícias e não se supriendam mais se mostrem solidárias.

Percebo que não só as autoridades tem obrigações com as pessoa, mas as pessoas tem obrigações com elas mesmo.O que eu posso fazer?

A minha parte como pessoa qual seria? Hoje me encontro em uma situação não muito agradável, internado no centro de internação social CIAP. Posso dizer que minha parte estou fazendo. Aos 19 anos sou pai e estou garantindo o futuro do meu filho. Hoje reintegrado fiz do que muitas pessoas diria o fim da linha começo de uma nova vida, abracei o mundo que vivo transformando dificuldades em solução,o tempo que poderia se disperdiçado é reutilizado em estudo,tornando um homem mais preparado para o mundo que vivo, com as oficinas de profissionalização me sinto mais preparado para o mercado de trabalho,concluindo os cursos e estudos posso fazer um pouco mais para mudar esta realidade.Agora posso dizer que não faço muito mas um pouco que cada um faz já poderia ser suficiente para o mundo. É fácil reparar nos erros dos outros e reclamar do mundo. É dever de todos ajudar.

Dando exemplo de esperança e superação, transmitindo o pouco conhecimento que tenho, talveis só um em cada cinco seja este exemplo mas já é alguma coisa, faça sua parte seja você um mendigo ou o presidente. Faça sua parte para o mundo que queremos.


Este texto foi redigido pelo educando R. e algumas correções foram realizadas com intuito de permitir o entendimento.

Nem Direitos Nem Humanos

Há mais de meio século as Nações Unidas aprovaram a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e não há documento internacional mais citado e elogiado.

Não é criticar por criticar: nessa altura, parece-me evidente que à Declaração falta muito mais do que aquilo que tem. Por exemplo, ali não figura o mais elementar dos direitos, o direito de respirar, que se tornou impraticável neste mundo onde os pássaros tossem. Nem figura o direito de caminhar, que já passou à categoria de façanha, ao remanescerem apenas duas classes de caminhantes, os ligeiros e os mortos. E tampouco figura o direito à indignação, que é o menos que a dignidade humana pode exigir quando condenada a ser indigna; e nem o direito de lutar por outro mundo possível, ao tornar-se impossível o mundo tal qual é.

Nos trinta artigos da Declaração, a palavra liberdade é a que mais se repete. A liberdade de trabalhar, receber salário justo e fundar sindicatos, para exemplificar, está garantida no artigo 23. Mas são cada vez mais numerosos os trabalhadores que, hoje em dia, não têm sequer a liberdade de escolher o tempero com que serão devorados. Os empregos duram menos do que um suspiro, e o medo obriga a calar e obedecer: salários mais baixos, horários mais dilatados, e lá para as calendas vão as férias pagas, a aposentadoria, a assistência social e demais direitos que todos temos, conforme asseguram os artigos 22, 24 e 25. As instituições financeiras internacionais, as Meninas Superpoderosas do mundo contemporâneo, impõem a "flexibilização da legislação trabalhista", eufemismo que designa o sepultamento de dois séculos de conquistas operárias. E as grandes empresas internacionais exigem acordos union free, livre de sindicatos, nos países que competem entre si para oferecer mão-de-obra submissa e barata. "Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão", adverte o artigo 4. Menos mal.

Não figura na lista o direito humano de desfrutar os bens naturais, terra, água, ar, e de defendê-los contra qualquer ameaça. Tampouco figura o direito suicida de exterminar a natureza, exercitado com entusiasmo pelos países que compraram o planeta e estão a devorá-lo. Os demais países pagam a conta. Num mundo que tem o costume de condenar as vítimas, a natureza leva a culpa dos crimes que contra ela são cometidos.

"Toda pessoa tem o direito de circular livremente", afirma o artigo 13. Circular, sim. Entrar, não. As portas dos países ricos se fecham nos narizes de milhões de fugitivos que peregrinam do sul para o norte, e do leste para oeste, fugindo das lavouras aniquiladas, dos rios envenenados, das florestas arrasadas, dos mercados despóticos e dos salários nanicos. Uns quantos morrem na tentativa, mas outros conseguem se esgueirar por baixo da porta. E lá dentro, na terra prometida, eles são os menos livres e os menos iguais.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, diz o artigo 1. Que nasçam, vá lá, mas poucos minutos depois já se faz o reparte. O artigo 28 estabelece que "todos temos direito a uma justa ordem social e internacional". As mesmas Nações Unidas nos informam, em suas estatísticas, que quanto mais progride o progresso, menos justo se torna. A partilha dos pães e dos peixes é muito mais injusta nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha do que em Bangladesh ou em Ruanda. E na ordem internacional, os numerozinhos das Nações Unidas também revelam que dez pessoas possuem mais riqueza do que toda a riqueza produzida por 54 países juntos. Dois terços da humanidade sobrevivem com menos de dois dólares diários, e a distância entre os que têm e os que precisam triplicou desde a assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Cresce a desigualdade e para salvaguardá-la crescem os gastos militares. Obscenas fortunas alimentam a febre guerreira e promovem a invenção de demônios para justificá-la. O artigo 11 nos garante que toda pessoa é inocente enquanto não se prove o contrário. Do jeito que vão as coisas, daqui a pouco será culpada de terrorismo qualquer pessoa que não caminhe de joelhos, ainda que se prove o contrário.

A economia de guerra multiplica a prosperidade dos prósperos e cumpre funções de intimidação e castigo. Ao mesmo tempo, irradia sobre o mundo uma cultura militar que sacraliza a violência exercida contra aquela gente "diferente", que o racismo reduz à categoria de subgente. Ninguém poderá ser discriminado por seu sexo, raça, religião ou qualquer outra condição, adverte o artigo2, mas as novas superproduções de Hollywood, ditadas pelo Pentágono para glorificar as aventuras imperiais, pregam um racismo clamoroso que herda as piores tradições do cinema. E não só do cinema. Há poucos dias, por acaso, caiu em minhas mãos uma revista das Nações Unidas, de novembro de 86, edição em inglês do Correio da UNESCO. Ali fiquei sabendo que um antigo cosmógrafo escrevera que os indígenas das Américas tinham pele azul e a cabeça quadrada. Chamava-se, acredite-se ou não, John of Holywood.

Eduardo Galeano

Em tempo...

Não poderia deixar de agradecer aqui ao meu colega Marcos Rodrigues, que enxergou em mim um potencial que eu não havia percebido, que sugeriu e me incentivou a criar um projeto pedagógico. Aos novos amigos Letícia, Wesley e Lisianny que me aguentam falar o tempo todo sobre este mesmo assunto e sempre me incentivaram.
Obrigada Wesley por ter "fritado o cérebro" junto comigo e ter me ajudado a escrever este projeto.
Agradeço também todas as pessoas que acreditaram no potencial da oficina e me deram apoio. Obrigada especialmente ao Lauro, diretor da unidade, pela oportunidade e apoio.
Agradecimento especial à Mafá, meu companheiro, meu norte. Você me estimula e me enriquece sempre.

Novo planejamento

 A partir da próxima semana nosso cronograma será contemplado na grade geral e ficaremos com os adolescentes divididos em cinco grupos. Destes grupos, dois serão contemplados com oficina duas vezes por semana. Os critérios utilizados para a escolha foram a assiduidade, interesse e número de integrantes. O atendimento da oficina foi estendido à 22 adolescentes.
O registro do planejamento da semana será publicado previamente e as publicações específicas sobre o desenvolvimento do conteúdo nos grupos serão publicadas cronologicamente com o desenrolar das oficinas.
Com a expansão do atendimento da oficina e o preenchimento da grade da escola, não conseguirei atender todos os grupos em virtude das adaptações ao novo horário. Houve também a inclusão de novos educandos aos grupos e em razão disto, decidi fazer uma revisão rápida do conteúdo desenvolvido para situar os novos participantes.

CONTEÚDO DA SEMANA:
  • Síntese do capitalismo. 
  • Conceito de Mais Valia.
  • Ideologia capitalista.
  • O papel do Estado dentro da estrutura econômica vigente.
  • As crises cíclicas do sistema.



Novas resoluções - 03/04/09

Depois de assistir a aula do ilustre professor Antonio Carlos Gomes da Costa e devorar seus livros "Aventura Pedagógica" e "Pedagogia da Presença", várias idéias começaram a criar forma em minha mente. Fiquei encantada com as palavras do professor. Elas me trouxeram a certeza de trilhar o caminho certo e o embasamento para praticar os conceitos discutidos na oficina. Decidi criar minha própria aventura pedagógica utilizando algumas idéias do professor.
Resolvi propor a criação de um jornal mural que terá como objetivo principal a socialização do conhecimento e dos assuntos discutidos na oficina. Entendo que é necessário agregar as pessoas em função do objetivo maior que é a sócio-educação dos jovens da unidade. O espaço do jornal será democrático, dando oportunidade a todos os servidores e educandos de se manifestarem. Esperamos conseguir com isto um espaço para debater questões internas ou mesmo externas à instituição. Estaremos abertos às críticas e sugestões, porém será vedado o anonimato.
Hoje também firmamos um pacto de comprometimento e conduta. A partir de agora, os conflitos, angústias, reivindicações dos educandos serão discutidos em assembléia com a direção e técnicos. 
Estamos acabando de fechar a grade horária da oficina para atingir o objetivo de nos encontrarmos duas vezes por semana. Foram incluídos outros adolescentes no projeto ampliando o atendimento da oficina para 20 adolescentes.

3º encontro - 28/03/09

O primeiro grupo com que trabalhei hoje estava bem desanimado. Chegaram mais capisbaixos e dispersos. Nenhum deles escreveu o texto recomendado. Reclamavam estarem cansados da "prisão", gostariam de estar na rua. Reclamaram também da instituição. Conversamos a respeito de suas angústias e logo partimos para o início das atividades. Assistimos um filme cujo tema era a trajetória dos Direitos Humanos, produzido pela SEDH. Discutimos a importância dos movimentos populares e da conscientização política e histórica para que jamais aceitemos um retrocesso nas conquistas sociais. O encontro foi morno e um pouco frustrante para mim.
Pessoalmente, eu também não estava muito animada. Também não havia feito um bom planejamento da dinâmica do encontro e me deixei contagiar pelo desânimo coletivo.
O grupo  é formado por quatro adolescentes do mesmo núcleo de convivência. Demonstram interesse pelos assuntos debatidos, participam das discussões mas, acredito ainda não terem encontrado um sentido na atividade. Não conseguem vislumbrar  o conhecimento como instrumento transformador. Se mostram mais imediatistas. Um desafio a mais.

O segundo grupo reúne nove adolescentes de três núcleos diferentes com a predominância dos adolescentes mais antigos na unidade. Este grupo reúne jovens que já estavam vivendo um processo de reflexão e criação de projetos futuros mais "realistas" e consistentes. Um prazer imenso tenho em trabalhar com eles. Sempre muito concentrados, participativos, interessados e muito inteligentes. Pediram para trabalhar o texto coletivamente e acabaram dividindo-se em duplas.
Iniciamos o encontro com a leitura dos textos. Sucesso total. Leitura, aplausos, comentários... Assistimos também o filme anteriormente citado e começamos a debater a política, os políticos e suas motivações. Partidos polítcos, ideologia, ética foram os assuntos trazidos ao debate pelos socioeducandos. Como sempre, finalizamos a oficina já com vontade de iniciar a próxima. O melhor de tudo é que este é um desejo coletivo.

Texto produzido pelos socioeducandos DHC e EJA

O idealista

O mundo que vivemos é um mar de ambição, que se mistura com a intensa burocracia,  com terríveis critérios que define em classes sociais a humanidade, que segue um só propósito, a evolução e a perfeição, isso é o capitalismo. Ricos querem expandir sua fortuna, para isso exploram, escravizam e cometem muitas outras atrocidades do gênero, erguem grandes impérios, sofrem com a constante solidão que isso os proporcionam. 
O padrão de vida que escolhem é inaceitável, jamais teremos um planeta amigável, justo e com harmonia. A evolução familiar que são as crianças, adota o mesmo caráter dos pais, que prolonga mais ainda essa triste realidade. Por isso aperfeiçoe seu conhecimento, mostre sua capacidade, forme sua opinião, faça sua parte na revolução que o mundo necessita. Não fique oculto aos olhos da sociedade, insista em benefício dos seus ideais e assim terá êxito e um grande progresso contra os exploradores e manipuladores do capitalismo. No decorrer desse trabalho citarei muitos outros aspectos que agravam essa situação cada vez mais.

O mundo que queremos é viável a todos, não exclui raça,origem, ou religião. Fácil e acessível para o povo, que age em benefício da humanidade. A igualdade é  a base de tudo. Que o dinheiro seja substituído pela boa vontade e que a boa vontade seja o interesse de todos e que todos tenham sua parte em benefício do outro, que não sejam acomodados nem pressionados.
Que todos sejam condecorados com o fruto de seu trabalho. Com a união global estabilizada teremos um planeta pacífico que proporcionará a verdadeira felicidade e paz a todos que ali convivem.

O texto foi publicado na íntegra e sem correções.

2º encontro - 21/03/2009


No encontro passado pedi aos socioeducandos que assistissem a TV com novos olhos e trouxessem para o debate as informações captadas com o novo olhar. 
Um deles, E.J., comentou sobre a virada da mesa da tão falada operação Satiagraha: "O herói virou bandido e sobre os verdadeiros criminosos, nem mais uma palavra". "Os poderosos fazem as leis que só servem para os pobres.
Bandido rico é bandido livre." É surpreendente a capacidade de reflexão destes jovens. Assim que coloco uma nova informação, eles já trazem um exemplo, fazendo associações rápidas e pertinentes.
Construímos nossa "Linha do Tempo", recurso que nos ajudará a entender os fatos históricos num contexto único e não como fatos desconexos. No contexto do desenvolvimento do capitalismo, abordamos a história social da criança e o foco central do debate foi a constatação de que, após tantos séculos, a criança pobre ainda vive como na Idade Moderna: escravinhas e escravinhos dos pais, do sistema, da sociedade. D.H. deu-nos um exemplo muito bom usando a figura de D.Pedro II para ilustrar a figura da criança como mini-adulto.
Encerramos a oficina com a proposta de construção coletiva de um texto que deverá ser desenvolvido a partir do seguinte tema:

O mundo em que vivemos X o mundo que queremos

Participações mais que especiais neste encontro: 
Lisianny e Wesley