"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
(Eduardo Galeano)

O ‘AMIGÃO' VISTO PELO RETROVISOR

Em outubro de 2002, em momento igualmente desfavorável como candidato de FHC contra Lula, Serra que hoje se apresenta como o novo amigão do peito do Presidente da República, dizia coisas distintas sobre o adversário. A tese da ‘inexperiência’ e do ‘despreparo’ para chefiar o país ,agora endereçada contra Dilma Rousseff, era recorrente na boca do tucano e da mídia que o apoiava. Em vez da ‘mulher inexperiente, que nunca foi eleita para nada’, o alvo era o metalúrgico ‘ que nunca administrou nada’, como alardeava a matraca conservadora do candidato e de sua entourgae. Liderar sindicatos e conduzir greves históricas, como se sabe, pertence ao universo do nada na visão do conservadorismo nativo, que já nasce póstumo graças a uma vocação inata para mandar e ser obedecido. Inclui-se entre os clássicos dessa visão da casa-grande, o episódio-síntese da cordialidade do serrismo em relação a Lula. Em plena campanha, o herdeiro de conhecido jornal de São Paulo, em almoço na sede da empresa, apontaria seu dedo magro e deselegante para Lula a ponto de causar constrangimento no próprio pai, então diretor do veículo e hoje falecido. Apoplético, o filho que atende pelo diminutivo, desautorizou o candidato-operário a postular a presidência entre outras coisas por não ter diploma universitário e não falar inglês. Ontem, como hoje, mídia e candidato tucano operavam na cadência de um jogral. Se o petista vencesse as eleições --como de fato venceu e gerou 14 milhões de empregos até agora-- o Brasil, de acordo com a pregação do tucano, seria palco de uma inevitável tragédia econômico financeira, associada a devastadora desestabilização política. Segundo o ‘amigão’, Lula na presidência cindiria o Brasil, a exemplo do que já ocorria, segundo ele, na Venezuela. Índio da Costa era só um aspirante a picollo balilla, mas o udenismo lacerdista já maturava no arsenal político de Serra, a inocular na classe média o veneno de um apartheid social cevado a uma dieta de medo, mentiras e arrogância. Com Lula, alardeava o serrismo, haveria uma argentinização da economia. O desemprego e a inflação explodiriam. Ao jornal Gazeta Mercantil , o tucano ardiloso gotejava em 9 de outubro de 2002 o mesmo bordão que agora martela contra Dilma: "Precisamos mostrar quem está mais preparado e mais cercado de forças políticas capazes de garantir a governabilidade". Diante da escalada terrorista, dias depois, o saudoso economista Celso Furtado faria um desabafo incomum para um homem público conhecido pelo estilo reservado e austero. Aspas para as atualíssimas observações do grande economista brasileiro ao site de campanha do PT, em 13-10-2002. 'O Serra está aperreado. Como ele vê que todos os apoios vão para o Lula, ele se destempera, diz coisas descabidas, tenta juntar fatos sem nexo. Mistura tudo, Brasil, Venezuela, descontrole cambial e eleições. Um pouco mais de seriedade. O Brasil precisa de seriedade. Existe uma expressão francesa para definir esse comportamento [de Serra]: aux bois, quer dizer, ladrando a torto e a direito. Enfim, o sujeito está no sufoco, fala qualquer coisa. É o fim de festa'. (Carta Maior; 22 -08)

Despedida

Como a maioria deve saber, esta oficina encerrou suas atividades oficialmente em novembro passado. Não teve vida longa e aos trancos e barrancos conseguiu atingir um bom número de adolescentes. Foi para mim fonte de grande aprendizado e prazer. Um verdadeiro laboratório pedagógico social.
Vencidas minhas férias e licença maternidade, pedi exoneração da SEJUS para assumir novo cargo na Câmara dos Deputados. Sentirei saudades do CIAP, principalmente dos adolescentes e dos poucos colegas que sempre me apoiaram. Este blog continuará existindo com o propósito de levar adiante as discussões da oficina e futuramente voltará a ser registro de minha próxima experiência em educação social.
Quero registrar aqui meus agradecimentos a Lauro Régis, Sandra Morato e Shirlei Rizzi pelo apoio e incentivo que sempre me deram. Aos colegas Rosimiro, Fernanda Granja, Juliana Ananda, Sérgio Dias, Priscila Caixeta, Maria Inês pelos debates de idéias, incentivo e amizade. Ao grande amigo Wesley Romano pelas idéias, carinho e amizade e todos os outros que de uma forma ou de outra colaboraram com meu trabalho.
Um grande abraço fraterno em todos,
Ana Paula Faria