"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
(Eduardo Galeano)

A ROUPA NOVA DO REI

Há sem dúvida um fenômeno de adesão jovem à candidatura de Marina Silva. A candidata apresenta-se como a melhor opção de governo entre a jovem burguesia das grandes cidades que acreditam que participação política é votar a cada quatro anos. Seus eleitores são universitários de classes médias e alta e grupos elitistas de intelectuais e artistas, que ao não se assumirem publicamente como conservadores sob pena de tornarem-se impopulares deslocam-se para a direita verde para falsamente serem classificados como vanguarda da política e do desenvolvimento. Acreditam serem militantes das causas ecológicas ao sacarem suas ecobags numa tarde de compras no shopping e consumirem produtos orgânicos e de produção menos agressiva ao ambiente, sinal este que mantem seu status quo de jovens antenados com as causas contemporâneas, conscientes e participativos. Afirmam através das redes sociais seu repúdio à política acreditando ser este discurso a vanguarda do radicalismo, sem ao menos terem consultado seu Aurélio para saber a definição da palavra política. Permanecem alienados do mundo ao seu redor cotidianamente e se encantam com o discurso da candidata verde, que por sinal sabe se expressar muito bem, que consideram moderno e engajado. Curiosamente, têm acesso ilimitado a banda larga e passam grande parte do tempo conectados à rede através de celulares, smartphones e toda sorte de equipamentos que não conheço bem e não consigo acompanhar-lhes o progresso. Apesar deste acesso ilimitado à informações, continuam consumindo as mesmas velhas informações distribuídas pelos periódicos da imprensa velha, os mesmos canais de televisão e suas representações na grande rede. São incapazes de construir seus próprios conceitos pois têm contato com apenas uma dimensão da realidade, a massificadora, apesar de julgarem-se diferenciados da grande massa popular. Não apresentam a menor curiosidade em desbravar outras dimensões da realidade do planeta onde vivem. Desconhecem todo o processo de mudanças ocorridas na América Latina, qual o papel desempenhado pelo Brasil neste processo de desenvolvimento tardio do Hemisfério Sul sempre explorado pelo Norte rico e decadente do mundo. Também não se dão conta de que é preciso um esforço contínuo e demorado para tentar acabar com as desigualdades resultantes de 500 anos de colonização por diferentes agentes com disfarces diferentes. Sua escolha pela candidata verde é endossada por artistas como Caetano e Gil, que nitidamente descontentes com a ascensão social do pobre e o sucesso e reconhecimento internacional do presidente operário, mas sem coragem de admiti-lo, desqualificam a vontade da maioria da população, a quem chamam hipnotizados e atribuem um valor cult ao eleitores de Marina. No fundo, gostariam mesmo é de serem europeus. Ao fecharem os olhos para as mudanças acontecidas e os anseios da população demonstram o desamor ao país e o desprezo ao povo brasileiro. Negam a ascensão do Brasil que é reconhecida pelo mundo afora como um fenômeno de enfrentamento a desigualdade social, ao fortalecimento do Estado e a promessa de um país mais possível e justo.

Marina Silva entoa um discurso ecológico que vai de encontro ao capitalismo vigente, apesar de jamais ter intencionado uma revolução no sistema produtivo que é completamente oposta à agenda de seus apoiadores, porque mente ao dizer que o partido verde é independente. O PV está coligado no Rio de Janeiro, estado onde Marina tem grande expressão de intenção de votos, ao DEM e PSDB e também ao Serra. Cartazes de propaganda de Gabeira trazem pérolas como César Maia, Solange Amaral e o número 45 de Serra. A crítica aqui não é sobre as alianças, pois estas são imprescindíveis para assegurar a governabilidade, mas ao tipo de aliança, a velada e mentirosa. Marina segue a política ecológica do bom empresário ditada pelas ongs internacionais , financiadas pelas grandes empresas poluentes, degradadoras do meio ambiente e exploradoras de mão de obra quase escrava em países pobres. Estas ongs convocam o indivíduo à diminuição do consumo, mas não condena o capitalismo ou convoca o empresariado a produzir menos. Marina representa a direita jogando verde.

Sendo assim, não está apresentando nada diferente do que temos na gestão vigente. Todas as diretrizes e propostas do seu programa de Governo já são realidades iniciadas no governo Lula e que devem ser continuadas e aperfeiçoadas. Controle social, democracia participativa, transparência , profissionalização da gestão pública, desenvolvimento sustentável, investimento na agricultura familiar e agronegócio, energia limpa, acesso universal a banda larga, nada disso é uma novidade, a não ser para as pessoas que estão à margem desta realidade por habitarem a dimensão mais rica e confortável, porém menos curiosa e engajada deste país. A candidatura verde não apresenta novidades e representa sim ser mais do mesmo.
Marina Silva é a roupa nova do rei.



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